Parque da Gorongosa comemora 50 anos com prenda para as comunidades locais
O Parque Nacional da Gorongosa, no centro de Moçambique, fez sexta-feira 50 anos mas foram as comunidades locais que receberam a prenda: um Centro de Educação Ambiental no valor de um milhão de euros, metade paga Portugal.
À volta do Parque, considera- do pela National Geographic um dos últimos paraísos da Terra, vivem cerca de 15 comunidades, orgulhosas do “seu” parque mas que cortam madeira na serra da Gorongosa, pescam no lago Urema e caçam animais selvagens por todo o lado. O Centro quer ensiná-los a preservar o “paraíso”.
Desde sexta-feira o centro abriu portas e José Carlos Cipriano, chefe do grupo cultural Ussi, de uma das comuni- dades do Parque, esteve a ensaiar todas as terças e sextas-feiras para a festa de aniversário, à sombra de uma das grandes árvores, junto das casas para turistas de Chitengo, a “porta de entrada” da área protegida.
O animador garantiu que estar presente na sexta-feira, como sempre noutras acções do Parque, desde 2008 gerido pela Fundação Carr, do multi-milionário norte-americano Greg Carr, que, com a agência dos Estados Unidos para a cooperação, USAID, financiou os outros 500 mil euros para a construção do Centro.
Scott Kipp, um jovem tam- bém de nacionalidade norte- americana, vai gerir o Centro de Educação Comunitária (que foi inaugurado pelo ministro do Turismo, Fernando Sumbana), localizado à entrada do Parque e com uma área de seis hectares, dos quais apenas 1400 metros quadrados ocupados com instalações amigas do ambiente e aproveitamento da água das chuvas e abastecidas com energia solar. À frente do que vai ser o restaurante conta que no Centro as pessoas que vivem na zona do Parque vão aprender a “proteger melhor” a zona, ameaçada pela destruição da floresta. “Uma das ameaças é o corte de árvores por caçadores de mel, por isso uma das actividades será o treino de pessoas para a apicultura, a instalação de colmeias e a produção de mel de alta qualidade”, explicou.
No Centro vai haver também uma sala de conferências, seis dormitórios, quatro plataformas para tendas e até uma casa para convidados, tudo para ensinar ambiente mas também saúde e “actividades de geração de receitas, para que as pessoas da zona tam- pão do Parque consigam fazer de maneira sustentável uma vida melhor, ecológica”, conta.Scott Kipp sabe que nem sempre é fácil. Um dia depois de mostrar o Centro foram capturados mais oito caçadores furtivos e apreendida uma carga de carne. Tinham morto cerca de uma vintena de animais, incluindo um leão fêmea, como contou um dos guardas do parque. Sempre estão a aumentar cada vez mais”, diz, referindo-se aos caçadores furtivos e acrescentando que praticamente todas as semanas há detenções de caçadores furtivos, uns da zona do Parque outros de fora, da Beira ou do Chimoio.
É um caso sério para um Parque que viu dizimados mais de 90 por cento dos animais durante a guerra civil, que opôs durante 16 anos as forças da Frelimo e da Renamo.
Ainda assim, em Chitengo, todos os dias chegam turistas. Se os animais não são muitos, sobretudo se comparando com o Kruger Park, na África do Sul, a Gorongosa vale também pelas paisagens naturais.
No acampamento de Chitengo começa-se a aventura pelos trilhos, a busca dos animais, as paisagens variadas, o deslumbramento das acácias amarelas. E é a ele que se volta à noite, quando em redor de uma grande fogueira se conta a luta entre dois leões poucos dias passados, mesmo junto da vedação que protege os turistas. Quem lá trabalha não tem dúvidas: o Parque está vivo.Governo aumenta 367 quilómetros quadrados ao Parque Nacional da Gorongosa
O Governo moçambicano decidiu aumentar de 3.700 quilómetros quadrados para 4.067 quilómetros quadrados a área do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), centro de Moçambique, para “evitar a destruição doecossistema do parque”.
Em conferência de imprensa que se seguiu à sessão das terças-feiras do Conselho de Ministros, o porta-voz do órgão, Alberto Nkutumula, afirmou que o aumento dos limites do PNG, um dos maiores de África, será feito através da anexação da Serra da Gorongosa e da criação de uma zona tampão em redor do parque.
“Foi criada uma zona tampão em redor do Parque Nacional da Gorongosa, justamente para se constituir uma região intermédia entre o parque e a zona de exploração livre de recursos minerais, faunísticos e florestais”, disse Alberto Nkutumula
Ao estabelecer-se uma zona intermédia entre o parque e a zona de exploração de recursos, pretende-se que as actividades da população “não tenham influência negativa sobre o ecossistema da região”, sublinhou o porta-voz do Conselho de Ministros de Moçambique.
Segundo Alberto Nkutumula, sem a delimitação decretada, os danos ao ecossistema do PNG, do próprio distrito da Gorongosa e da cidade da Beira, capital da província de Sofala, onde está o parque, serão irreparáveis.